«I too am not a bit tamed, I too am untranslatable» (Walt Whitman) | setadespedida@yahoo.co.uk

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Aviso à navegação


Para quem não saiba, terminei na semana passada a minha tese de mestrado. Nos últimos doze meses, só duas coisas me distraíam satisfatoriamente dos problemas que andava a tentar resolver: confeccionar sobremesas complicadas e ler ficção. Esta circunstância conduziu-me a duas constatações: embora não tenha vocação para fada do lar, posso ser uma leitora voraz.
Li muita coisa, muito depressa. Como sinto uma certa necessidade avassaladora de escrever sobre coisas diferentes (a tese é sobre cinema), é possível que apareçam alguns posts sobre literatura nos próximos tempos. Haverá citações.

Premiados surpreendentemente bons

Em 2007 o Booker Prize foi atribuído a The Gathering, de Anne Enright. (Publicado em Portugal pela Gradiva, com o título Corpo Presente.) Os resumos na contracapa e as referências nos jornais que descreviam este romance como o retrato de uma família que vale também como retrato de um país contribuíram para me afastar dele durante bastante tempo.

Cheguei ao livro porque por acaso alguém citou a última frase e gostei dela. Folheei-o depois numa livraria. A primeira frase também é muito boa. O livro de Anne Enright começa assim:
«I would like to write down what happened in my grandmother’s house the summer I was eight or nine, but I am not sure if it really did happen.»
A leitura do que se segue lembra-me que a vida acontece sem relações de causa/efeito, sem advérbios de modo e sem marcadores temporais. Contar histórias não é um mecanismo literário gasto: é aquilo que, dentro ou fora da literatura, fazemos para compreender. Sem contarmos histórias não teríamos a certeza se certos episódios sucederam realmente, nem saberíamos explicar quando, como, onde, ou por que razão aconteceram.

Anne Enright

Logo na segunda página, a narradora diz:
«I do not know the truth, or I do not know how to tell the truth.»
Dentro e fora da literatura, a verdade é aquilo que uma narração vai construindo discursivamente.
Aceito que a dificuldade reside na zona movediça que a necessidade de contar histórias instala entre ficção e vida real: tanto a ficção como a vida consistem em coisas que sentimos necessidade de contar e de articular em narrativas. A questão é que talvez seja precisamente esta indistinção que nos faz continuar não só a ler, mas também a viver e a contar histórias sobre isso.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

The beast that kept me inside

Allison Sommers

Parece-me que já vejo a margem.

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